Muito hoje no transe
da inutilidade
Dei o completo
sem uma palavra
Tudo ressoava antes
de perceber o Deserto
Cada poro do Jardim
tinha sua merecida Flor
Cada Flor seus resquícios
de pólen para inventar
Uma nova inseminação
da frutificação perdida
Mas quem entenderá?
Na boa Verdade só digo
que Nada importa
ou melhor, só Ele importa
São passos e passos
rumo a um buraco de Infinito
Como escadas espiraladas
de um outro UniVerso
Vasos e vasos, ora com água,
ora destituídos até do Vazio
Empunhando destinos
com febris certezas
Empunhando o Vento
com o febril Horizonte
E nada contendo as arestas
apenas fragilidades sutis
Mas por isso mesmo
de uma força implacável
Como se buscasse de início
do Vento sua origem de vendaval
Nem toda tempestade
é de alagar
E mesmo assim sussurra,
encomenda velhas árvores
São lembranças da potência
que não duram mais que o dia
Como diria um outro chinês
no lapso de sua barba
Sim há enigmas gigantes
no alisar de uma barba
Chinesa ou rubra
é o império do antigo que chama
E ainda assim, quando corri,
quis olhar para trás
E era o aceno cansado
de uma dama cansada
E para isso cansamos,
cansamos da espera, cansamos da não espera
Cansamos porque há um grande Infinito
pelos Olhos de quem ama
Nisso o sábio alisou sua barba
para descobrir coisas sem nome
E pássaros e vidros celebraram
como uma última dança
Ali não havia cansaço
mas um olhar honesto
De quem descobriu sem suspeita
que por vezes há anjos
Convidei-os para dançar
porque quis aprender a voar
Convidei sem um assobio,
convidei com as mãos de música
Convidei com a única Verdade
que podia dançar
Convidei com a invenção
das horas também febris de alegria
Para assim descobrir que os anjos
dançam sempre em nossos sonhos
Os dormidos e os acordados
sonhados por nem sequer vencer
Que guerra se daria
quando a dança eleva os olhos dela?
Que estupidez se daria
quando o suor lembra outras paradas?
Foi ali que acendi meu último incenso
para dar o tom da minha febre
Para dar ao Vento
as palavras que encantei
Porque palavras são para encantar
mais que cantar
E muitos caem nessa ilusão
esquecendo do Silêncio
Ali o verdadeiro Poeta
brilha com acidez
Porque sua Luz
queima
Sua Luz despedaça
mas convida para jantar
Ou até almoçar
quando a comida faltar
Nem só de pão
toca o homem seu restaurante
Restaurando outra Vida
onde cabe seu destino
Ele é firme e decidido
para também cantar sem encantar
Afinal, palavras
adoecem
Ainda assim, foi ali que o Poeta
viu a novidade de um olhar
Que se surpreendeu
com a Energia do Mistério
Nele cabem poros
abertos infinitamente para o Céu
E isso também os anjos
sabiam...
Foram eles que se alegraram
da eterna novidade do Amor
E dançaram bocas e mãos
levando a mensagem
A única que vale a pena
pro Poeta que atravessou Infernos
Só para lembrar
que já tinha dançado
Esta e outras danças
com os amores que nasceram
Nele era tudo lira
de musas loucas
Mas elas tinham sua ordem
que os olhos acostumados perderam
Mesmo assim é Vida
e só Ela agora viu
Com o tamanho da gratidão
de quem agora vai dançar
Não até a Noite acabar
mas até a Luz nascer
E ali, naquele Horizonte,
serei o semblante de Deus
Como anúncio da vermelhidão
que o suor permitiu...
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