Olho para o céu
buscando o livro da Vida
Onde os ecos do Infinito
são pedaços da minha Voz
Onde os Horizontes se encaixam
com sonhos e outras músicas
Porque aí talvez no limite
esteja minha maior mentira
Aquela que se diz
não por sobrevivência ou desvio
Mas por incapacidade monstruosa
da Verdade
Ali meu rosto jamais
teria seu espelho
Mas sussurra antiquadamente
com os olhos
Procura fagulhas sem corpos
e almas que fervem
Fervem no escuro
pra aumentar a intensidade
Fervem na aparência
largadas das horas
Mas na verdade é algo mais
pois é construção
A Noite constrói infinitamente
mais que o Dia
Porque no Silêncio o homem
escuta mais o próprio Vento
Como uma rajada de escuridão
ainda assim permanece
Perdoar, perpassa e percorre
mesmo que sequer tenha andado
Ali o álbum esculpido
de todas luzes doloridas
Vão recostando seu descanso
para a certeza da gratidão
Todos e tudo foram convidados
de sua jornada
Pronta para derreter
nessa fogueira noturna
Por isso, como esconder a Luz
no meio da escuridão?
Tenho manias e ações ancestrais
prontas a serem nada diante de nada
Quem gravará o impossível
sem história e anônimo?
É preciso deixar uma brasa
onde tudo é poeira?
Vem antes de tudo escapar
e diga a única palavra sem voz
Vem e diz o quanto foi
o que se foi...
Vida, vida, vasta Vida
se me chamasse Aparecida
Seria muito outra a vida
e mesmo assim não seria solução
Afinal, quem sabe não esconde
que a vida não merece solução
Porque é de tua eterna loucura perfeita
não ser um problema, mas dádiva
Por isso quando abri as gavetas
cheias de papel, mas sem endereços
Percebe-se que o remetente
está enviado pedaços de sua alma
E por vezes, desses estilhaços
é bom fazer alguma arte
Que remende não as fraturas
mas exponha seu verdadeiro palácio
Nesse dia a coroação
cantará o livro da Vida
Que tolamente busquei
nos conselhos do Céu
Pois os portões e os porões
se abrem sempre no mesmo lado
Mas ainda assim parecem
um esconderijo perpétuo
Depois de recolher todos os bilhetes
e recados, vi que não havia história
A única coisa a se contar ficou
neste poema
Os mais avisados já sabem
de soslaio, sem sequer contorcer verbos
Que este poema é um hino
ao imensurável Nada...
Comments