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Desajeitada vida

Desajeitado é o canto do UniVerso

que pede passagem

Desajeitado é o CorAção

do tamanho de todas suas despedidas


Desajeitadas são as horas herdeiras

do choro de um amor perdido

Desajeitada é a tentativa certamente vã

de ajeitar alguns pedaços da Vida


Desajeitado é ter fragmentos

de alguém que partiu

Desajeitado é buscar entre olhos

o reconhecimento de um afeto


Desajeitado é ter uma palavra

muito certa no instante completamente errado

Desajeitado é ter amor ainda

quando tudo se foi


Desajeitado é conversar com anjos

em silêncio no meio do inferno

Desajeitado é crer em anjos

enquanto se caminha bruto no inferno


Desajeitado é ter algum dragão

em resguardo por si

Desajeitado é contar histórias

que nunca pediram fim


Desajeitado é ter palavras

e nenhuma alma calma pra ouvir

Desajeitado é guardar o mundo

na ponta frágil do CorAção


Desajeitado é ter o comportamento

longe da Alma

Desajeitado é o encontro

depois que o relógio sumiu


Desajeitado é buscar fotos

que ainda não se apagaram

Desajeitada é a ansiedade

antes e depois de qualquer coisa


Desajeitada é a pele

que já não me habita

Desajeitado é o vôo

que não tem o vento


Desajeitada é a terapia

sem a psicóloga

Desajeitada é essa mesma terapia

sem um único olhar


Desajeitado é o almoço

entre pessoas sem comida

Desajeitado é este verso

que não encontra nenhuma Alma


Desajeitado é o alarme

que esconde o sono atrasado

Desajeitado é ainda mais

o descanso de toda ilusão


Desajeitado é atravessar a vida

como um pintor sem ressentimento

Desajeitado é o mar e a praia

sem a lembrança santificada


Desajeitado é o poema

que queria uma leitora atenta

Desajeitada é a doença

que complicou as mãos


Desajeitado é ter estudado

sendo um analfabeto emocional

Desajeitado é perceber

que nunca quis vencer nada


Desajeitado é perceber a cura

no meio do trânsito atordoante

Desajeitada é a música

que briga com as cores do vento


Desajeitada é a emoção

mesmo após tantos anos

Desajeitado é o discurso

agora impossível de plateia


Desajeitado é o sorvete

que veio no inverno

Desajeitada é a guia da calçada

que esqueceu de contornar a rua


Desajeitado é o carro

que se estacionou sem querer

Desajeitado é o reencontro

após a viagem de uma toca namorada


Desajeitada é a carta

que quis dizer tudo e um pouco mais

Desajeitada é a letra

de quem hoje treme


Desajeitado é o passo

de quem esqueceu o caminho

Desajeitado é cantar

sem chuva ou banheiro


Desajeitada é a lágrima

que não tem mais seu rosto

Desajeitado é o olhar

para a foto que não se está


Desajeitado é um amigo atravessado

entre distâncias de nações

Desajeitado é esse amigo

ainda ter uma voz


Desajeitado é encontrar a poesia

entre pessoas que nunca viu

Desajeitada é a lembrança

do cinema vazio


Desajeitado é o filme preferido

que dorme no amor

Desajeitado é o detalhe

que resolve persistir


Desajeitada é a esperança

de um acolhimento desajeitado

Desajeitada é a fé

por alguém que não existe


Desajeitado é tocar

o violão e o coração de quem nos esqueceu

Desajeitado é modo inteiro

de um poeta


E é por esse jeito desajeitado

que ele ameaçou cantar

Bem no limite dolorido

do olhar e da loucura...

 
 
 

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