Escombros dos rostos
- poetadohorizonte
- 27 de fev.
- 2 min de leitura
Hoje os sussurros são maiores
que os gritos
Imprimem a força
de tudo que tende ao Silêncio
Por isso consuma e suma
bem antes de tudo
Destrua seus templos
mais puros
Vá longe imensamente
onde nada caiba
E lá esqueça de construir
seja lá o que for
Que a facilidade da despedida
seja intensa e maior
Que não haja engano
quando até a estrada for embora
Suma, faça demolição
por demolição
Até que seu peito
seja a única casa
Aí sim nele faça algum mosaico
que conte os resquícios
Ou até os indícios
para provar que sumiu
Quando tudo isso for
completamente entendido
Haverá mais amor
e lágrimas agradecidas
Talvez a lembrança
seja uma palavra esparsa
E como ninguém pediu
sempre uma incompreensão
Hoje não se pede mais
histórias com o amor frágil
Hoje encontre a demolição
como a maior obra já feita
Traga os escombros
como cartas respeitadas
Traga as ruínas
como febre
Traga ainda estilhaços
como verdades certeiras
Para que nada possa
ser escondido ou revelado
Não pela propriedade
do enigma
Mas pela companhia perfeita
de tudo que vai
Ali está uma chave,
um trecho descansado de luz
Ali ressoa o último Vento
do último Horizonte
Nele cabem passos ancestrais
sem nenhum pé
E mesmo assim maiores
que qualquer caminhada
Disso tudo que vai
apenas sopro e sorrio
Não pro fingimento
do espelho
Não para a luz críptica
das fotografias
Muito menos para a sinceridade
dos que esqueceram de amar
Sorrio e sopro porque
ainda é possível
Porque ainda há luz
pra dizer meu pedaço impossível
Sopro e sorrio muito antes
dos calendários e aniversários perdidos
Talvez fosse um compromisso
e muita indecisão
Quem pede a contribuição
espera seu pedaço
Eu sorrio e sopro
sem pedaço, e sem contribuição
Por isso convoco e peço
de todos que demoliram
Que não queiram construir nada
desses escombros mal ajeitados
Apenas soprem e sorriam
para que o rosto seja nu
E o portal de sua maior
verdade...
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