Se a biblioteca esconder
seu último livro
Não lute por letras
que falharão
Busque crescer a história
com o tamanho dos olhos
E revista tudo com
um manto perdido
Pois tudo que cobre
tem seu caminho
Pois tudo que cobre
tem o que descobre...
Se as letras da mão
faltarem, imponha o Vento
Seja dele um resquício
de semente e partida
Seja como as horas mágicas
e ainda impossíveis
Seja como o destino de um
calendário sem compromisso
Se o livro certo faltar
escreva ou até mais
Viva com a ponta das mãos
no limite certeiro da Vida
Não responda com ouro
ou a voz, o que pede silêncio
Não responda com tinta
ou sussurro, o que pede mistério
Tenha esconderijos grandiosos
mesmo que sejam na frente de todos
Porque a visão é o empenho
de quem pode ver
Se a lição inteira faltar
não peça nada aos mestres
Faça antes alguma coisa
que se perca imensamente
Faça um olhar anterior
onde tudo for calma
Faça um rosto maior
onde tudo for revelação
Faça deste poema
algum enigma real e surpreendente
Pois nele se acabará
tudo que nunca foi dito
Pois nele se terá algo
que sequer pode ser dito
Pois nele há algo
que nem sequer é algo...
Por isso convoque as estrelas
como biblioteca perfeita
E que a última publicação
talvez nem seja luz nem noite
Talvez seja algo que miseravelmente
esquecemos de acender por dentro
Onde todo peito ressoa
ecos ancestrais
E mesmo assim sobram olhos
como testemunhas sinceras
De toda esta noite
que é Vento e Amor...
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